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Você não vai tomar seu café?
-
Claro que sim.
-
Tá esfriando aí.
-
Eu sei.
-
Você vai tomar ele frio?
-
Vou.
-
Por quê?
-
Por que você quer saber porquê eu vou
tomar meu café frio?
-
Ué, porque não é muito comum tomar café
frio. Você deve ter algum motivo pra isso.
-
Motivo?!
-
É. Uma justificativa. Uma explicação.
-
E por que eu deveria ter?
-
Você faz alguma coisa sem ter motivo
nenhum pra fazer?
-
Você não?
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Não… Bom, às vezes, eu acho…
-
Então.
-
Mas você deve ter algum motivo pra
tomar café frio...
-
Não, eu não tenho. Eu só quero tomar café frio. Eu quero, e só.
Eu não preciso de um motivo pra isso. Aliás, ninguém precisa de motivo pra
nada. Não preciso ficar aqui discutindo com você se tomar café quente ou frio é
melhor ou pior, se é normal ou estranho, se é certo ou errado. A gente pode
passar toda a nossa vida discutindo a temperatura do meu café e no fim eu vou
tomar ele frio do mesmo jeito. Pra que ficar discutindo se a gente nunca chega
em lugar nenhum? Aliás, não existe lugar nenhum pra chegar.
- Talvez não... Então por que você tá
aqui esperando seu café esfriar? Por que você tá aqui sentando me ouvindo,
respirando e pensando? Por que você se esforça em viver se você não vai chegar
em lugar nenhum, se um dia você vai morrer?
Então, pela primeira vez ele não apenas pensou na sua morte
(afinal, passou boa parte da vida pensando nela) mas sentiu a morte passando
por ali, abrindo a porta, sentando do seu lado, pedindo um café e olhando pro copo, esperando o café esfriar.