sábado, 17 de novembro de 2012

Toldo


            Havia um certo restaurante, numa certa rua, numa certa grande cidade, onde sempre havia um toldo do lado de fora, cobrindo as mesas onde as pessoas que comiam alí se sentavam. Houve um certo dia, nesse certo restaurante, que aquele toldo não estava mais colocado naquele mesmo certo lugar. Algo errado? Talvez.
            Naquele certo dia, chegou por alí um certo grupo de pessoas que costumavam ir todos os dias aquele restaurante e imediatemente notaram que alguma coisa estava diferente. Notaram a falta do toldo, notaram a luz forte de um dia ensolarado e o vento fresco de um clima agradável.  Mas esse clima parecia agradável demais pra esse certo grupo de pessoas. Imediatamente passarm a reclamar da ausência do toldo, com algumas certas justificativas. Ou erradas. Quem sabe? Um disse que poderia chover. Outro disse qua fazia frio. Outro disse simplesmente preferia que o toldo estivesse alí onde sempre esteve.
            O que na verdade encomodou aquele certo grupo de pessoas naquela tarde ensolarada e de clima agradável? Talvez a mudança inesperada de um toldo que parecia necessário para que pudessem comer alí tranquilos como sempre. Sentiriam, talvez, uma certa dificuldade de conversar sobre certos assuntos, afinal, o toldo estava alí para escondê-los dos olhos e ouvidos de Deus.
            Talvez tivessem medo de se sentar alí sem a proteção divina do toldo, que os salvaria de qualquer perigo iminente, de qualquer catástrofe iminente, de qualquer acaso, qualquer acidente, qualquer coisa não fazia parte de seus planos de comer, beber, rir e papear. Talvez tivessem medo do motivo pelo qual o toldo foi tirado dalí, fosse ele uma motivo qualquer.
            Talvez, e bem talvez, tivessem medo da sensação de liberdade que o toldo lhes proporcionava. Poderiam temer a liberdade, o ar fresco, o dia ensolarado. Saiam todos os dias de edifícios fechados para almoçar debaixo daquele toldo, voltavam para os edifícios, saiam para voltar pra casa, em carros, ônibus, trens e metrôs, e por fim chegavam em casa. Estavam sempre cercados de concreto, tijolos, vidros e metal. Talvez tivessem medo de estar somente cercados de ar fresco e luz.
            Naquele certo dia eles comeram, beberam, riram e conversaram de maneira diferente. Comeram pouco, beberam quase nada, riram entre dentes, conversaram sobre nada. Naquele certo momento tudo parecia errado. Eles pareciam perdidos, o toldo parecia perdido, a comida parecia fria, a bebida quente, o riso falso e a conversa vazia.
            No dia seguinte, lá estava o toldo devolta, onde costumava estar. Estava alí cumprindo seu papel. Protegia, escondia, disfarçava, encobria e cobria a liberdade.
            E aquele certo grupo de pessoas voltou aquele certo restaurante, naquele certa rua, naquela certa cidade grande e viu que o toldo estava alí. E pareceram julgar que agora estava tudo como devería ser, tudo certo.
 


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