segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

"Forças terríveis se levantaram contra mim"



Estou cheio de um "não eu", mas tão cheio, que já não sei que eu que sou. Já não como o que comia, não bebo o que bebia nem falo o que falava. Já não falo. Não argumento, nem tento resolver. Deixo estar. Seguro o nó dolorido na garganta que me dá ânsia e dói. Dói bastante engolir palavras, ainda mais as ásperas. É esse meu banquete diário, quilos e mais quilos de palavras engolidas a seco. Mas quando engasgo cuspo tudo fora, de uma vez, sem pena nem ideia do que faço. Dá vontade de se rasgar inteiro pra deixar as palavras vazarem. Mas elas não vazam, porque já estão pastosas. São o fungo que me consome e me assusta todo dia, esse "não eu" fantasmagórico, que me faz ter pesadelos, sonhar com cães raivosos e mundos alternativos. É essa espinha gigante e enorme que tenho nas costas fazem anos. É minha dor nas pernas, nas costas, meu pulmão cheio de catarro. É um câncer terrível. Uma doença tão comum e ridícula que me sinto um idiota de ter pegado. Um imbecil que jogou mil vidas no lixo e milhões de palavras pra arder no ácido do estômago. Tentei até botar o dedo na goela e vomitar anos e anos de palavras mofadas, esquecidas, daquelas que fedem de tão podres. Mais eu não posso. Sou doente da vontade. Tenho a vontade fraca, assim como fígado. A sede do "eu mesmo" me faz beber litros, e rir e chorar, mas não afoga esse "não eu" maldito. Persistente, de fato. Resiste as todas as tentativas de limpeza e purificação. Droga cativa de cabeceira, que me faz dormir e me acordar. Às vezes de bom humor.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O Diário de Valdisney Elias - Sexta Página

“Mano eu tenho mó raiva desses muleques da escola! Eles vivem mexendo comigo, tudo uns troxas. To com mais raiva ainda é do muleque novo, o gringo. O nome dele é Mike, mais eu chamo ele de Mickey, pra zua ele, porque eu acho que ele é um rato. Eu odeio ele, ele é muito metido e se acha, mas todo mundo acha que ele é foda, eu não acho. O Mickey é um bostinha, todo mundo curte ele só porque ele é gringo, as minas ficam pagando pau pra ele. Nem to nem ai, um dia os muleque vai pegar ele, quero ve."

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Diário de Valdisney Elias - Quinta Página



“Hoje veio em casa o namorado novo da tia Branca, o Douglas. Minha tia chama ele de Dunha mas eu não sei por que, vou pergunta pra ela. O Dunha é um cara baxinho e careca, mas não tem barba que nem o Messi e os outros namorado da tia Branca e o mais loco é que ele quase nem fala. Nem ouvi a voz dele direito hoje quando ele falou alguma coisa porque ele falou bem baixinho. 'Brigado dona Isabela', ele falou pra minha mãe, mas o resto eu nem ouvi. Nem parece nada com o último namorado da tia Branca, o nome dele era Félix, e ele falava pra cacete o dia inteiro o tempo todo, mas eu gostava dele. O Félix era coveiro, trabalhava no cemitério, imagina só! Vivia fazendo piada e zuando os outros. Ele era mais legal que o Dunha, eu vou falar isso pra minha tia.”

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O Diário de Valdisney Elias - Quarta Página (fragmento)



“EU ODEIO O MEU PAI! ELE ME BATE E BATE NA MINHA IRMÃ TODO DIA E EU NUM AGUENTO MAIS! EU QUERIA SER POLICIA E TER UMA ARMA PRA...”

O Diário de Valdisney Elias - Terceira Página



“Hoje eu dei um rolê com o meu primo Hugo, filho do meu tio Paker que todo mundo chama de Pakinha. Ele é rico e ele tem vários carros e é vereador. Todo ano meu tio Pakinha tem um carro novo, várias máquina potente, ele teve até Ferrari. E a casa dele é mó grande, deve dar umas 10 da minha casa, ou até maior. Lá com ele mora o meu primo Hugo e os irmãos dele, tudo meus primo, o Luiz e o José. Eles não têm mãe não. Eu ouvi um dia minha mãe dizer que eles são adotados, que eles eram tipo menino de rua e meu tio pegou eles pra ser filho dele. Meu tio Pakinha é gente boa, eu curto ele e ele levou a gente hoje no cinema, mas minha irmã não quis ir com a gente, ela tava com muito sono e foi dormir. E depois meu tio comprou pro Hugo um jogo novo de Play 2, dai a gente jogou na casa dele. Num lembro o nome do jogo, mas era de tiro. Eu ganhei do Hugo várias vez, sou fóda!”

domingo, 3 de agosto de 2014

O Diário de Valdisney Elias - Segunda Página


“Hoje eu mostrei meu diário pra minha mãe. Ela disse que eu era besta de ficar escrevendo essas coisa e deveria estuda pra ser adevogado, pra tira meu irmão da cadeia. Meu irmão é o Robinson, os maluco aqui da rua chama ele de Robin, tipo o amigo da Batman. Ele foi preso porque tava robando uma loja mas ele num é bandido não, ele dava dinhero pra minha mãe compra umas coisa no mercado e pra minha tia Branca ir no cabelelero. Ele também trazia vários brinquedo pra mim e pra minha irmã. Eu gosto do meu irmão e não queria que ele tivesse na cadeia. Amanhã a gente visita ele na cadeia, todo sábado a gente vai lá com a minha mãe. Ele foi preso com os mano dele, o Joãozinho, e otros maluco aqui da rua já faz mais de mês. Nem é primera vez que acontece isso, já é a tercera vez já e ele ainda continua robando e a policia pega ele sempre.”

sábado, 2 de agosto de 2014

O Diário de Valdisney Elias - Primeira Página



Meu nome é Valdisney Elias eu tenho 12 anos e eu queria escreve todas as coisa que aconteceram comigo desde que eu era criança, mas eu não lembro. Então eu vo escreve a coisa mais antiga que eu lembro, que foi quando a minha tia Branca levou o namorado dela lá em casa, o Messi. Esse foi o primero namorado da tia Branca que eu conheci e depois dele teve mais seis diferente. O Messi era o açoguero aqui da rua, era uruguaio e falava daquele jeito engraçado que eles falam lá e era também um cara muito gente boa. Eu gostava dele, mas a tia Branca brigou com ele quando eu era pequeno e é esse dia que eu lembro, o dia em que eles brigaram lá em casa. Depois daquele dia o Messi ia em casa procura a tia mas ela se escondia dele, a gente falava pra ele que ela não tava em casa, mas eu conversava com ele. Ele ainda trabalhava aqui no açogue até o ontem, mas ai ele sumiu e ninguém sabe como. Tem gente que falando que ele tinha dívida de droga. Nadavê. Meu pai não gostava do Messi, e acho que ele não gosta de mais ninguém também, nem de mim, nem da minha irmã, nem da minha tia, só da minha mãe. Nem do irmão dele ele gostava, o tio Paker, porque ele é rico. E no dia que minha tia brigou com o Messi meu pai colocou os dois pra fora de casa na porrada, desceu o cacete neles. O Messi nem ficou com medo do meu pai e voltou lá todo dia.”